O mito de que a Síndrome de Asperger é facilmente identificada impede que os pais descubram que seus filhos têm esse transtorno.
Ele é conhecido como um dos níveis do autismo e pode apresentar sintomas leves, que são desprezados por quem desconhece o tema.
Dificuldade de fazer amigos, vontade de ficar isolado e ver o mundo de forma diferente estão entre eles.
Veja de que ser trata o Asperger, seus principais sintomas e como fazer o diagnóstico.
A Síndrome de Asperger está presente em 1 a cada 160 pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mas a maioria delas nem desconfia que possui tal característica. Ela causa alterações tanto no comportamento, quanto na forma de se comunicar. Trata-se de um dos Transtornos do Neurodesenvolvimento e os mais conhecidos são o déficit de atenção e a hiperatividade.
Os sinais do Asperger costumam aparecer na infância e ele ficou conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA). A população em geral desconhece o tema e por isso ainda se baseia no estereótipo do autismo em seu grau mais alto, ou seja, aquele que provoca isolamento e dificuldade de comunicação até com a família. Ele tem vários níveis e os mais sutis são difíceis de notar, por isso às vezes o diagnóstico é confirmado só na adolescência ou na fase adulta.
O portador desse transtorno tem as faculdades da fala e da inteligência preservadas. Está aí mais um fato que complica o diagnóstico. Também é normal ver essas pessoas se destacando em seu meio ambiente por causa da elevada capacidade de raciocínio ou habilidade. Quer exemplos? Saiba quem são as personalidades que têm Asperger e nem por isso ficaram limitadas, ao contrário, elas romperam diversas barreiras do mundo “normal”.
Os pesquisadores ainda estão trabalhando para descobrir as causas do autismo. Por enquanto, sabe-se que ele é mais comum nos meninos e uma das origens está na genética. Em 1981, o Asperger recebeu a definição que tem até hoje e só na década de 1990 surgiram os primeiros critérios padronizados de diagnóstico.
Veja se você conhece alguém que tem os principais sintomas dessa síndrome.
Deixe um pouco de lado a ideia do autismo que você viu no personagem de Dustin Hoffman no filme Rain Man. Aquelas características existem, porém, são facilmente identificáveis e surgem quando a pessoa tem por volta de três anos de idade. O desafio aqui é distinguir traços que também podem estar presentes em qualquer indivíduo, entretanto, são mais ressaltados e perceptíveis em comparação a quem não tem a síndrome.
Do ponto de vista da interação social, a criança é bastante sensível, realmente fica magoada com certas brincadeiras ou comentários e gosta de se isolar, principalmente quando se sente sob pressão. Por outro lado, pode agir com frieza ou distanciamento em relação a dor alheia e ser vista como egoísta. Ela inclusive tem dificuldade para fazer amizades. É preciso ver como tais comportamentos afetam as relações.
Mais uma característica, é a dificuldade de interpretar tons de voz e expressões faciais com significados ocultos. O portador de espectro autista costuma entender as informações literalmente e por isso não percebe ironias, sarcasmos e malícias. Não vê maldade nos outros (é inocente), tem menor percepção ao risco e assim acaba se colocando em situações perigosas. Ele enxerga e sente o mundo de forma diferente e isso interfere diretamente na forma de se relacionar em casa, na escola e com os amigos.
É interessante ressaltar que normalmente as crianças com Síndrome de Asperger não são percebidas como incapazes. São vistas como alguém diferente, às vezes esquisita, mas ninguém consegue dizer o que acontece, nem o porquê. Claro que diversidade humana muito é importante e as características pessoais devem ser preservadas, pois ninguém é robô. Mesmo assim, existem comportamentos esperados segundo o funcionamento de um cérebro sem alterações.
O funcionamento diferente do cérebro leva a novas formas de agir e de se relacionar, mas também resulta na capacidade de encontrar soluções nunca imaginadas. Algumas pessoas com Síndrome de Asperger não têm dificuldade de aprendizagem, ao contrário, destacam-se pela inteligência acima da média. Quando leve, essa condição é classificada como autismo de alta performance. Nesse caso, quem tem a síndrome costuma apresentar ideias criativas e até geniais em sua área de atuação.
A natureza especial do cérebro delas, também lhes permite armazenar enorme quantidade de informações. É comum ver pessoas nessa condição ter ótima memória, resolver problemas matemáticos com extrema rapidez ou aprender idiomas com bastante facilidade. Enquanto o cérebro diferente dificulta a vida no âmbito da interação social e da comunicação, abre portas em outros aspectos que leva os profissionais a se destacarem no dia a dia.
É preciso ter cuidado para manter o equilíbrio, porque o excesso de interesse em um tema específico pode resultar na falta de atenção nas demais áreas da vida. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, melhor a pessoa vai lidar com as próprias características. É como ter em mãos um mapa contendo as zonas em que precisa agir com cuidado porque são complexas à própria condição. No autismo leve ou de alto desempenho, é mais fácil minimizar os efeitos dos pontos negativos e ressaltar os positivos.
O primeiro passo consiste em combater o preconceito em torno do tema. Existem várias informações erradas e uma delas afirma que o autismo é facilmente reconhecido pela fisionomia da pessoa. “Está na cara, no jeito”. Veja outros mitos. Depois, é recomendável procurar uma equipe multidisciplinar formada por psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais para fazer o diagnóstico.
A certeza de que a criança tem Síndrome de Asperger é dada a partir da avaliação do comportamento. Além das consultas com o paciente, o psicólogo conversa com os pais e com os professores dela. Todas as formas de interação e também de se comportar são avaliadas para se chegar a um parecer confiável.
Cientistas continuam pesquisando a origem do autismo. O Programa Genoma e Neurodesenvolvimento (Progene), da Universidade de São Paulo (USP), atua no diagnóstico clínico e genético do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e disponibiliza informações sobre o teste genético para detectar o autismo.
Um deles é o array-CGH, usado não só para o autismo, mas também com o objetivo de detectar atrasos no desenvolvimento. É importante informar que o resultado positivo serve como complemento à avaliação clínica, que é a parte mais importante em todo o processo de investigação das condições de saúde.
O CEDLAB oferece o exame array-CGH e de acordo com Alexandra Manfredini, diretora do CEDLAB, ele é usado para investigação de deleções e duplicações em todo o genoma humano, simultaneamente. Tal ferramenta de diagnóstico baseia-se na hibridização comparativa do DNA do paciente em relação ao DNA de uma amostra de referência, possibilitando a detecção de alterações que afetam um único gene.
Sendo assim, todo um acompanhamento é necessário após a confirmação do diagnóstico. Ele pode ser feito por meio da atuação de uma equipe multidisciplinar formada por médicos, psicólogos, geneticistas e pedagogos, por exemplo. A ideia consiste em verificar como cada área aborda essa questão e de que forma elas colaboram no desenvolvimento da criança.