Ao contrário do que você imaginava, a doença de Chagas continua sendo motivo de preocupação.
Essa enfermidade mudou a forma de contágio e por isso existe aumento no número de pacientes.
Você sabia que quem mora na zona rural deixou de ser a população mais afetada?
Saiba o que mudou em relação à transmissão da doença e o que você pode fazer para evitá-la.
Doença de Chagas voltou a ser motivo de preocupação porque a quantidade de casos dessa enfermidade já cresceu bem antes da pandemia. Um estudo das notificações feitas entre 2001 e 2018 revelou três fases de contaminação nesse período. Saiba mais sobre esse estudo publicado em 2020, o mais recente sobre o tema.
A análise foi realizada por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e das universidades federais de Goiás, do Ceará, da Bahia e do Rio de Janeiro. No total, a equipe analisou 5.184 casos. A fonte dos dados é o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), mantido pelo governo federal.
Segundo a análise dessas informações, houve aumento no número de casos durante os primeiros quatro anos da amostragem. Já nos quatro anos seguintes, os pesquisadores notaram estabilidade e logo depois os casos de doença de Chagas voltaram a crescer rapidamente, mudando a maneira de contágio.
Há poucas décadas, a principal forma de contaminação ocorria como sempre foi vista desde quando o cientista Carlos Chagas descobriu a enfermidade, em 1909. O bicho-barbeiro picava a pessoa e defecava no mesmo local, que se tornava uma via de contágio. Hoje em dia, a doença também surge de outro jeito.
A transmissão oral se tornou não apenas mais uma maneira de ficar doente, mas também a principal causa da doença de Chagas atualmente. Essa contaminação tem como base o consumo de alimentos misturados com as fezes de outros insetos doentes. Trata-se de algo bem mais grave.
Portanto, engana-se quem pensa que essa enfermidade foi erradicada do Brasil. Também não é verdade que esse problema de saúde está presente só entre a população rural, que vive no meio da natureza e está mais sujeita à presença de animais e insetos dentro de casa. Veja como ocorre a contaminação hoje em dia.
Pesquisadores descobriram que o risco está no consumo de frutas e alimentos misturados com fezes de insetos em geral ou o próprio bicho contaminado. O problema surge da seguinte forma. Quando a cana e o açaí, por exemplo, são usados para fazer o suco e a polpa, restos de animais podem ser triturados na hora de moer esses produtos. Portanto, a pessoa consome algo contaminado.
De acordo com especialistas no assunto, essa maneira de adquirir a doença é bem mais perigosa porque nesse caso o inseto foi ingerido. Sendo assim, a quantidade do protozoário (Trypanosoma) causador da doença de Chagas é imensamente maior do que a existente só nas fezes do barbeiro. Além disso, o agente infeccioso vai todo para dentro do organismo, o que não acontece com a picada, porque a pele protege a pessoa.
Entendeu por que a contaminação oral é mais grave? Os alimentos citados são apenas dois exemplos do que pode ser servido sem nenhum tipo de cozimento, ou seja, in natura. A orientação, nesse caso, é verificar muito bem como está a higiene do comércio em que for comer ou, se for fazer algo em casa, lavar e escaldar os ingredientes antes do preparo. Temperaturas acima de 45ºC certamente evitam o surgimento da doença de Chagas.
As regiões Norte e Nordeste foram as que mais registraram aumento do número de casos. A situação é preocupante em locais específicos, por exemplo, no Pará, responsável por 81% dos casos do Norte do país. Por isso, é imprescindível realizar campanhas de esclarecimento não apenas a respeito das formas de transmissão, mas também sobre como evitar esse problema de saúde.
Os médicos dividem o quadro clínico do paciente em duas fases: aguda e crônica. Na primeira, a pessoa pode er sintomas genéricos, presentes em vários problemas de saúde, o que dificulta saber de que se trata sem fazer exames específicos. As principais queixas são referentes à febre, mal-estar e falta de apetite, por exemplo.
Quando a doença atinge a fase crônica, talvez a pessoa não sinta nada e fique a vida inteira sem manifestá-la, nem ter consequências. Isso depende da cepa que causou a infecção, pois existem inúmeros tipos de bicho-barbeiro, com consequências diferentes à saúde. O tratamento é gratuito no Sistema Único de Saúde, porém, só faz efeito durante a fase aguda, ou seja, no início da doença.
Os sintomas também aparecem em períodos diferentes, conforme o tipo de contaminação. Quando a transmissão acontece por meio da picada do inseto, os sinais de que há algo errado surgem entre 4 e 15 dias. No caso do contágio oral, o prazo varia de 3 a 22 dias. É importante informar que alguns pacientes passam tranquilos por essa fase e só anos mais tarde têm problemas de saúde.
O risco de a doença ficar despercebida no organismo está na possibilidade de, no longo prazo, levar a complicações no coração ou no sistema digestivo. Nesse caso, só os exames nesses locais podem revelar o nível de comprometimento dos respectivos órgãos.
Por isso, é recomendado a qualquer pessoa que conviva com alguém diagnosticado com doença de Chagas fazer o exame, pois pode estar assintomática. Moradores de áreas rurais com relatos de presença do bicho-barbeiro ou qualquer indivíduo que possa ter ingerido alimento contaminado por causa de surto na região, devem fazer os teste.
A doença de Chagas também se espalhou pela maioria dos países da América Latina. No exterior, o perfil do paciente mudou como no Brasil e está cada vez mais distante das características de quem mora na zona rural.
Por causa do crescente fluxo migratório, essa enfermidade ultrapassou fronteiras tão facilmente quanto quem viaja, inclusive para locais mais distantes. Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Suíça e Japão têm casos da doença.
Hoje em dia, no mundo, aproximadamente 8 milhões de pessoas convivem com a doença de Chagas. Nem todas receberam o diagnóstico. Mesmo assim, por volta de 10 mil mortes por ano são consequência dessa enfermidade.
É importante informar que, bem diferente do que se imaginava, essa doença não foi erradicada. Ao contrário. Continua em crescimento e exigindo novas ações não só das autoridades sanitárias, mas principalmente da população.